Fabulações do Antropoceno em Playlists de Dark Ambient no YouTube

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/volesp(2025).5761

Palavras-chave:

fabulação, dark ambient, semiótica, YouTube, antropoceno

Resumo

Encontram-se no YouTube diversas playlists de dark ambient apocalíptico, produzidas por músicos amadores. Na trilha visual, imagens estáticas ou gifs animados apresentam cidades em ruínas, geralmente sem presença humana. As peças musicais que integram a trilha sonora são compostas por meio de software de edição de áudio, compondo a textura sonora por meio de drones graves, pouca variação dinâmica e melódica e ausência de elementos percussivos. Se Murray Schafer (1977/2001) chamava atenção para a poluição sonora que acometia o tempo presente, aqui provocamos de forma diferente: como os sons das playlists de dark ambient apocalípticas imaginam o porvir? Que fabulações de futuro emergem dessas expressões artísticas? Partimos da premissa de que nestas expressões não constam respostas para as catástrofes que virão — pelo contrário, elas expressam a complexidade do tempo presente em nossa incapacidade de lidar com elas. Propomos observar a produção sígnica que decorre destas relações materiais. O nosso método de análise observa os comentários postados pelos usuários nas playlists publicadas no YouTube. Os comentários expressam afetos dos espectadores das playlists, que se sentiram impelidos a compartilhar sua experiência particular de escuta. Por vezes, expressam que as músicas lhes geraram sensação de solidão, ou de melancolia, ou até sensações contraditórias como alegria e tristeza ao mesmo tempo; em outras, conectam a experiência audiovisual com momentos passados da própria vida. Compreendemos o agenciamento criado pela soma dos comentários, do vídeo e das sonoridades como escutas expandidas, isto é, produção de comunicação, de signos que fabulam distopias do passado, presente e futuro em conexão com a temática do antropoceno.

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Biografias Autor

Marcelo Bergamin Conter, Departamento de Comunicação, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

Marcelo Bergamin Conter é professor de Teorias da Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É doutor em Comunicação pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Ana Christina Cruz Schittler, Departamento de Artes Visuais, Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

Ana Christina Cruz Schittler é bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Edital Instituto Federal do Rio Grande do Sul 12/2023). É graduada em Administração de Empresas/Análise de Sistemas — Faculdades Rio-Grandenses. É graduanda em Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Paulo Henrique Costa Albani, Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Alvorada, Brasil

Paulo Henrique Costa Albani é bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – Ensino Médio (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Edital Instituto Federal do Rio Grande do Sul 12/2023). É aluno de 4.º ano do Curso Técnico em Produção de Áudio e Vídeo no Instituto Federal do Rio Grande do Sul — Campus Alvorada.

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Publicado

24-04-2025

Como Citar

Conter, M. B., Schittler, A. C. C., & Albani, P. H. C. (2025). Fabulações do Antropoceno em Playlists de Dark Ambient no YouTube. Comunicação E Sociedade, 223–242. https://doi.org/10.17231/volesp(2025).5761

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