A Arte de Macular: Como É Recebido o Artivismo Descolonizador Feminista Pelos Jornais Italianos? O Caso da Estátua de Montanelli

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/comsoc.42(2022).4025

Palavras-chave:

Indro Montanelli, artivismo feminista, violência baseada no género, jornalismo italiano, descolonização, colonialismo italiano

Resumo

No dia 8 de março de 2019, durante uma manifestação organizada no âmbito do Dia Internacional da Mulher em Milão, membros do coletivo feminista Non Una Di Meno (nem uma mulher a menos) de Milão lançaram tinta rosa lavável sobre a estátua em homenagem ao jornalista italiano Indro Montanelli (1909–2001). O objetivo de expor visualmente o passado controverso do aclamado escritor foi crucial para a ação simbólica do grupo. Apesar de ser uma figura de referência para muitos intelectuais italianos, Montanelli participou na guerra abissínia em 1935 e, como membro do exército fascista, manteve um relacionamento com uma menina local de 12 anos que desempenhou o papel de esposa e objeto sexual. A ação do coletivo, que pode ser rotulada como uma performance feminista descolonizadora, já foi lida como uma forma de artivismo que manipulou a herança artística italiana visando criticar a narrativa vigente sobre o passado colonial italiano. Assim, para compreender o impacto que a ação teve na opinião pública italiana e o progresso para a descolonização mental do país, é crucial uma análise da ressonância que a cobertura jornalística atribuiu ao evento. Este artigo apresenta os resultados de uma análise qualitativa realizada sobre um corpus de 10 artigos de jornal online publicados na sequência da performance artivista sobre a estátua de Montanelli. O estudo utiliza a análise crítica do discurso foucaultiano para identificar as estratégias retóricas utilizadas pelos jornalistas para criticar ou legitimar a ação do coletivo feminista. Entre estas estratégias, é dada particular atenção às técnicas discursivas adotadas para retratar o ato como uma forma de vandalismo ou, pelo contrário, como uma forma de arte. O objetivo é mostrar como o discurso sobre arte versus não arte/vandalismo é usado para confirmar (ou superar) os limites discursivos impostos pelas narrativas ainda dominantes sobre a história colonial da nação, bem como sobre a disponibilidade de corpos de mulheres “alheias”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia Autor

Nicoletta Mandolini, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Braga, Portugal

Nicoletta Mandolini é investigadora júnior da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (Portugal), onde está a trabalhar no projecto Sketch Her Story and Make It Popular. Using Graphic Narratives in Italian and Lusophone Feminist Activism Against Gender Violence (Esboçar a Sua História e Torná-la Popular. Usando Narrativas Gráficas do Ativismo Feminista Italiano e Lusófono Contra a Violência de Género; https://www.sketchthatstory.com/). Trabalhou como investigadora pós-doutorada na Research Foundation - Flanders na KU Leuven (Bélgica) e é doutorada pelo Universidade College Cork (Irlanda). É autora da monografia Representations of Lethal Gender-Based Violence in Italy Between Journalism and Literature: Femminicidio Narratives (Representações da Violência Letal de Género em Itália Entre Jornalismo e Literatura: Narrativas de Feminicidio; Routledge, 2021). Entre outros artigos sobre o abuso sexista na literatura e nos média contemporâneos, coeditou o volume Rappresentare la Violenza di Genere. Sguardi Femministi tra Critica, Attivismo e Scrittura (Representar a Violência de Género. Perspetivas Feministas entre Crítica, Ativismo e Escrita; Mimesis, 2018). É membro ativo do grupo sobre violência, conflito e género do Centre for Advanced Studies in Languages and Cultures, que foi coorganizadora desde 2016 até 2019. É membro fundador do Studying'n'Investigating Fumetti.

Referências

Abis, S., & Orrù, P. (2016). Il femminicidio nella stampa italiana: Un’indagine linguistica. gender/sexuality/italy, 3, 18–33. https://doi.org/10.15781/41gr-5p26 Bisiach, G. (Writer & Director). (1969). L’ora della verità: Indro Montanelli. RaiUno.

Boyle, K. (2005). Media and violence. Sage.Bullock, C. F., & Cubert, J. (2002). Coverage of domestic violence fatalities by newspapers in Washington state. Journal of Interpersonal Violence, 17(5), 474–499. https://doi.org/10.1177/0886260502017005001 Del Boca, A. (1998). Il colonialismo italiano tra miti, rimozioni, negazioni e inadempienze. Italia contemporanea, (212), 589–603. DOI: https://doi.org/10.1177/0886260502017005001

Endaylalu, G. A. (2018). Mustard gas massacres and atrocities committed by Italy in 1939 against the inhabitants of Menz, Merhabete, and Jamma in Amesegna Washa/Zeret Cave. Cultural and Religious Studies, 6(9), 501–530. DOI: https://doi.org/10.17265/2328-2177/2018.09.001

Gerbi, S., & Liucci, R. (2014). Indro Montanelli: Una biografia (1909-2001). Hoepli.

Giuliani, G. (2018). Race, nation and gender in modern Italy. Intersectional representations in visual culture. Palgrave.Groys, B. (2014). On art activism. E-flux Journal, 56, 1–14. https://www.e-flux.com/journal/56/60343/on-art-activism/

Hallin, D., & Mancini, P. (2004). Comparing media systems. Three models of media and politics. Cambridge University Press. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511790867

Houérou, F. (2015). Gender and sexual abuses during the Italian colonization of Ethiopia and Eritrea – The ‘Insabbiati’. Sociology Mind, 5, 255–267. https://doi.org/10.4236/sm.2015.54023 DOI: https://doi.org/10.4236/sm.2015.54023

I sentinelli di Milano. (2019, March 9). Ieri sera durante il corteo femminista la statua di Indro Montanelli è diventata rosa, a coprire il nero delle cose [Image attached] [Status update]. Facebook. https://www.facebook.com/isentinellidimilano/posts/1152717204910698/

Jäger, S., & Maier, F. (2009). Theoretical and methodological aspects of Foucauldian critical discourse analysis. In R. Wodak & M. Meyer (Eds.), Methods of critical discourse analysis (pp. 34–61). Sage.

Jedlowski, P. (2011). Memoria pubblica e colonialismo italiano. Storicamente, 7, 1–3. https://storicamente.org/jedlowski_colonialismo

Labanca, N. (2015). La guerra d’Etiopia. 1935-1941. Il Mulino.

Leone, G. (2011). Se gli inumani siamo noi. Riflessioni sulla narrazione intergenerazionale dei crimini di guerra commessi dal gruppo di appartenenza. Rivista internazionale di filosofia e psicologia, 2(2), 131–147. https://www.rifp.it/ojs/index.php/rifp/article/view/rifp.2011.0015

Lissi, S. (2019). Paint it pink. The role of heritage in the debate on Italy’s colonial past [Unpublished manuscript]. Utrecht University.

Mandolini, N. (2019). Femminicidio, prima e dopo. Un’analisi qualitativa dei casi Stefania Noce (2011) e Sara Di Pietrantonio (2016). Problemi dell’informazione, 2, 247–277. https://doi.org/10.1445/97793

McNeill, S. (1992). Women killer as tragic hero. In D. E. H. Russell & J. Radford (Eds.), Femicide. The politics of women killing (pp. 178–183), Twayne Publishers.

Meyers, M. (1996). News coverage of violence against women. Sage.Montanelli, I. (2020, February 12). Quando andai a nozze con Destà. Il Corriere della Sera. DOI: https://doi.org/10.4135/9781452243832

Mouffe, C. (2007). Artistic activism and agonistic spaces. Art&Research. A Journal of Ideas, Contexts and Methods, 1(2), 1–5. https://www.artandresearch.org.uk/v1n2/mouffe.html

Non Una Di Meno – Milano. (2019, March 9). Per la Repubblica si tratta di vandalismo, per noi invece è una doverosa azione di riscatto. Queste le parole di [Image attached]. Facebook. https://www.facebook.com/nonunadimenomilano/photos/per-la-repubblica-si-tratta-di-vandalismo-per-noi-invece-%C3%A8-una-doverosa-azione-d/807900419569928/

Office of the High Commissioner for Human Rights, Joint United Nations Programme on HIV/AIDS, United Nations Development Programme, United Nations Economic Commission for Africa, United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, The United Nations Population Fund, United Nations High Commissioner for Refugees, The United Nations Children's Fund, United Nations Development Fund for Women & World Health Organization. (2008). Eliminating female genital mutilation. An interagency statement. World Health Organization. https://www.un.org/womenwatch/daw/csw/csw52/statements_missions/Interagency_Statement_on_Eliminating_FGM.pdf

Palonen, E. (2008). The city-text in post communist Budapest: Street names, memorials and the politics of commemoration. GeoJournal, 73, 219–230. https://doi.org/10-1007/s10708-008-9204-2 DOI: https://doi.org/10.1007/s10708-008-9204-2

Pankhurst, R. (1999). Italian fascist war crimes in Ethiopia: A history of their discussion, from the League of Nations, to the United Nations (1936-1949). Northeast African Studies, 6(1/2), 83–140. https://doi.org/10.1353/nas.2002.004 DOI: https://doi.org/10.1353/nas.2002.0004

Ponzanesi, S. (2012). The color of love: Madamismo and interracial relationships in the Italian colonies. Research in African Literatures, 43(2), 155–172. https://doi.org/10.2979/reseafrilite.43.2.155 DOI: https://doi.org/10.2979/reseafrilite.43.2.155

Trento, G. (2011). Madamato and colonial concubinage in Ethiopia: A comparative perspective. Aethiopica, 14, 184–205. https://doi.org/10.15460/aethiopica.14.1.419 DOI: https://doi.org/10.15460/aethiopica.14.1.419

Trento, G. (2012). Ethiopian-Italians. Italian colonialism in Ethiopia and gender legacies. Arabian Humanities. International Journal of Archaeology and Social Sciences in the Arabian Peninsula, 17. https://doi.org/10.4000/cy.1878 DOI: https://doi.org/10.4000/cy.1878

Publicado

16-12-2022

Como Citar

Mandolini, N. (2022). A Arte de Macular: Como É Recebido o Artivismo Descolonizador Feminista Pelos Jornais Italianos? O Caso da Estátua de Montanelli. Comunicação E Sociedade, 42, 245–258. https://doi.org/10.17231/comsoc.42(2022).4025