Invisível e Vulnerável, mas Resiliente: Um Retrato da Imprensa Regional Centenária em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.17231/comsoc.48(2025).6377Palavras-chave:
jornalismo regional, jornalismo de proximidade, imprensa centenária, desigualdade de género, democraciaResumo
Num contexto de profunda crise no setor mediático e de crescente desertificação informativa em vastas regiões de Portugal, este estudo propõe um mapeamento da imprensa regional centenária enquanto expressão resiliente do jornalismo de proximidade. Através de uma metodologia mista — combinando análise documental e levantamento quantitativo — foram identificadas e analisadas 40 publicações com mais de 100 anos de existência, ainda em atividade no território nacional. O estudo examina a sua distribuição geográfica, periodicidade, formato (papel e/ou digital) e composição das direções editoriais em termos de género. Os resultados apontam para uma forte ancoragem territorial destas publicações e assimetrias regionais significativas e revelam padrões preocupantes, como a frágil transição digital, a reduzida diversidade de género nas chefias num quadro de segregação vertical e a persistente vulnerabilidade económica. Apesar dessas limitações, estes jornais continuam a desempenhar um papel relevante na preservação da memória coletiva, na coesão social e no fortalecimento da democracia local. Além disso, oferecem pistas importantes sobre práticas de resistência e adaptação que desafiam o declínio do jornalismo de proximidade. O estudo propõe, por fim, uma reflexão sobre o valor público desta imprensa e a urgência de políticas que a reconheçam como património informativo e bem comum, fundamental para garantir o direito à informação em regiões periféricas e sub-representadas.
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