Irene Lisboa e o Jornalismo Literário na Violência Contra a Mulher. Representação Sociopolítica nas Revistas Portuguesas Seara Nova e presença (1929–1955)

Autores

  • Jorge da Cunha Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.17231/comsoc.46(2024).5270

Palavras-chave:

Irene Lisboa, Estado Novo, violência de género, jornalismo literário, crónica

Resumo

Irene Lisboa (1892–1958) foi uma cronista, ou jornalista literária, que, a partir da voz de personagens reais ou personagens-fonte e da sua própria voz, apresenta um discurso de denúncia do cenário sociopolítico, resultado da sua posição imersiva nos locais de observação. Como revistas antirregime, e por isso censuradas, a Seara Nova e a presença, folha de arte e crítica, através dos seus autores, tentaram encontrar meios de resistir e, ao mesmo tempo, denunciar um país, um povo e, consequentemente, uma mulher idealizados. Assim, neste estudo, pretende-se compreender a representação da violência contra a mulher durante a ditadura portuguesa, numa perspetiva discursiva e narrativa, a partir do corpus cronístico de Irene Lisboa, publicado nas revistas Seara Nova e presença, folha de arte e crítica, no período entre 1929 e 1955. As conclusões apontam no sentido de que a autora deixa representada uma mulher vítima de violência exercida pelo Estado, pela família e pela sociedade. A mulher representada por Lisboa é um ser dual. Por um lado, a mulher burguesa que é formada pelo preconceito e pelo servilismo; por outro lado, a mulher do povo, também sujeita às questões de género e de poder que a desumanizam enquanto pessoa e mulher; e ambas longe da mulher idealizada pelo regime.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia Autor

Jorge da Cunha, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

Jorge da Cunha é professor de Português no Externato João Alberto Faria, em Arruda dos Vinhos, distrito de Lisboa, e coordenador, na mesma instituição de ensino, do serviço de educação especial. É licenciado em Antropologia com especialização em ensino de Português e História e mestre em Ciências da Educação com especialização em análise e intervenção em educação (dislexia) e em educação especial (cognitiva e motora). É doutorando do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa, em Ciências da Comunicação (Jornalismo Literário).

Referências

Alexander, R., & McDonald, W. (2022). Introduction: Literary journalism and social justice. In R. Alexander & W. McDonald (Eds.), Literary journalism and social justice (pp. 1–18). Palgrave Macmillan.

Amossy, R. (Ed.). (2005). A imagem de si no discurso: A construção do ethos (D. F. da Cruz, F. Komesu, & S. Possenti, Trads.). Editora Contexto. (Trabalho original publicado em 1999)

Azevedo, R. G. M. (2010). Autoria feminina na revista presença, folha de arte e crítica (1927-1940). Agália, (102), 169–193.

Baptista, C., & Camponez, C. (2022). Introdução. In C. Baptista & C. Camponez (Eds.), Contributos para uma história do jornalismo em Portugal (pp. 7–9). ICNOVA. https://doi.org/10.34619/xpg1-jl58

Barbosa, S. M. (2018a). Irene, João, Mara – Sobre a escrita de autoria feminina na presença. Estudos Regianos, (24/25), 115–129.

Barbosa, S. M. (2018b). Irene Lisboa: O sujeito e o tempo. Edições Colibri.

Barbosa, S. M. (2023). Irene Lisboa: A “desafiadora de todas as ordens estabelecidas”. In J. M. C. Esteves, I. H. de Jesus, & T. S. de Almeida (Eds.), Escritoras portuguesas no tempo da ditadura militar e do Estado Novo (pp. 19–34). Peter Lang.

Barros, J. L. de. (2022). Censura: A construção de uma arma política do Estado Novo. Tinta da China.

Beauvoir, S. (1976). O segundo sexo: Os factos e os mitos (S. Milliet, Trad.). Livraria Bertrand. (Trabalho original publicado em 1949)

Brake, L. (1994). Subjugated knowledges: Journalism, gender and literature, in the nineteenth century. Palgrave Macmillan.

Cachofel, J. J. (1964, julho). Mesa-redonda: Um realismo sem margens? Seara Nova, (1425), 214–217.

Camponez, C., & Oliveira, M. (2022). A construção jurídica do conceito de jornalista (1910-1999). In C. Baptista & C. Camponez (Eds.), Contributos para uma história do jornalismo em Portugal (pp. 11–35). ICNOVA. https://doi.org/10.34619/xpg1-jl58

Caparrós, M. (2012). Por la crónica. In D. Jaramillo (Ed.), Antologia de crónica latino-americana atual (pp. 607–612). Alfaguara.

Cardoso, F. L. (2012). Jornalistas-escritores: A necessidade da palavra. Edições Minerva.

Carmo, C. I. do. (2020). Noite inquieta: Ensaios sobre literatura portuguesa, política e memória. Húmus.

Carmo, C. I. do. (2022). Vozes e gestualidades do trabalho nas crónicas urbanas de Irene Lisboa. In C. I. do Carmo, J. M. Frias, M. C. Pimentel, R. Nobre, & R. Patrício (Eds.), Presença e memória: Homenagem a Paula Morão (pp. 87–99). Edições Colibri.

Ferreira, V. (1978). Em memória de Irene Lisboa. In V. Ferreira (Ed.), Espaço do invisível I (pp. 229–240). Arcádia.

Ferro, A. (2007). Entrevistas a Salazar. Parceria A. M. Pereira.

Freire, P. (1978). Cartas à Guiné-Bissau: Registos de uma experiência em processo. Paz e Terra.

Freire, P. (1992). Pedagogia da esperança. Paz e Terra.

Fuentes, C. (2008). Memoria, ideología y construcción de la identidad en la prensa: La mujer en el franquismo. In F. di Gesù, A. Pinto, & A. Polizzi (Eds.), Media, power and identity: Discursive strategies in ideologically-oriented discourses (pp. 125–146). Palermo University Press.

Galindo, J. A. G., & Naranjo, A. C. (2016). La crónica en el periodismo narrativo en español. Revista FAMECOS, 23(4), ID24926. https://doi.org/10.15448/1980-3729.2016.s.24926

Gomes Ferreira, J. (1991). Breve introdução às obras de Irene Lisboa. In I. Lisboa (Ed.), Um dia e outro dia... Outono havias de vir [Poesia I] (pp. 17–30). Editorial Presença. (Trabalho original publicado em 1978)

Guerreiro, M. V. (1992). A Carta de Pero Vaz de Caminha lida por um etnógrafo. Edições Cosmos.

Gunter, B. (2000). Media research methods: Measuring audiences, reactions, and impact. SAGE.

Hall, S. (1997). The work of representation. In S. Hall, J. Evans, & S. Nixon (Eds.), Representation: Cultural representations and signifying practices (pp. 13–74). SAGE.

Herrscher, R. (2016). Cómo contar la realidad con las armas de la literatura. Ediciones Finis Terrae.

Herrscher, R. (2021). Nuevos caminos del periodismo narrativo en el siglo XXI: Poesía, teatro, descripción y la voz potente de las cosas. Textos Híbridos, 8(1), 143–179.

Hijmans, E. (1996). The logical of qualitative media content analysis: A typology. Communications, 21(1), 93–108.

Lamas, M. (1960, setembro/outubro). As primeiras leis da República e as mulheres. Seara Nova, (1378–1380), 226.

Lamas, M. (1973, novembro). A nossa vida é muito escrava. Seara Nova, (1537), 50.

Lisboa, I. (1941, 24 de maio). Os reformados. Seara Nova, (719), 36–38.

Lisboa, I. (1986). Folhas soltas da Seara Nova (1929-1955). Imprensa Nacional/Casa da Moeda.

Lisboa, I. (1991). Um dia e outro dia... Outono havias de vir. Editorial Presença. (Trabalho original publicado em 1936/1937)

Lisboa, I. (1992). Solidão. Editorial Presença. (Trabalho original publicado em 1939)

Lisboa, I. (1995). Esta cidade! Editorial Presença. (Trabalho original publicado em 1942)

Lisboa, I. (1997). Crónicas da serra. Editorial Presença. (Trabalho original publicado em 1960)

Lisboa, I. (1999). Solidão II. Editorial Presença. (Trabalho original publicado em 1974)

Lubbock, P. (2006). The craft of fiction. Perlego Publisher. (Trabalho original publicado em 1936)

Marques, A., Duarte, I. M., Pinto, A., & Pinho, C. (2019). A construção da identidade da mulher em revistas do Estado Novo. ex æquo, (39), 71–88. https://doi.org/10.22355/exaequo.2019.39.05

Marques, A. H. O. (1981). História de Portugal (III). Palas Editores.

Morão, P. (1983). Prefácio. In I. Lisboa (Ed.), Folhas soltas da Seara Nova (pp. 11–44). Imprensa Nacional/Casa da Moeda.

Morão, P. (1997). Prefácio. In I. Lisboa (Ed.), O pouco e o muito: Crónica urbana (pp. 7–14). Editorial Presença.

Morão, P. (1998). Prefácio. In I. Lisboa (Ed.), Apontamentos (pp. 7–16). Editorial Presença.

Neuendorf, K. A. (2002). The content analysis guidebook. SAGE.

Polónia, A., & Capelão, R. (2019). A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e as suas experiências do oriente. In M. C. Natário, R. Epifânio, M. L. Malato, & P. Borges (Eds.), Portugal-Goa: Os orientes e os ocidentes. Seminário Internacional de Filosofia e Literatura (pp. 19-33). Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras do Porto.

Rosa, V. (2019). A cidade de Lisboa no jornalismo literário de Fialho d’Almeida [Tese de doutoramento não publicada, Universidade de Lisboa]. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/19107

Rotker, S. (1992). La invencion de la crónica. Ediciones Letra Buena.

Sá, J. de. (2005). A crônica. Edições Ática.

Santos, I. (2007). O império do outro: Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Batalha Reis, Oliveira Martins e a Inglaterra vitoriana [Tese de doutoramento não publicada, Universidade Nova de Lisboa]. Run. http://hdl.handle.net/10362/20018

Sapega, E. W. (1996). Memória pública e discurso oficial: Visões da época salazarista na obra de Irene Lisboa, José Saramago e Mário Cláudio. Discurso: Estudos de Língua e Cultura Portuguesa, (13), 99–114. http://hdl.handle.net/10400.2/4222

Schutz, A. (2012). Sobre fenomenologia e relações sociais. Editora Vozes. (Trabalho original publicado em 1970)

Serra, F., André, P., & Rodrigues, S. L. (2019). Projetos editoriais e propaganda, imagens e contraimagens no Estado Novo. In F. Serra, P. André, & S. L. Rodrigues (Eds.), Projetos editoriais e propaganda, imagens e contraimagens no Estado Novo (pp. 23–37). Imprensa de Ciências Sociais.

Sims, N., & Kramer, M. (1995). Literary journalism. Ballantine Books.

Soares, I. (2011). Literary journalism’s magnetic pull: Britain’s ‘new’ journalism and the Portuguese at the fin-de-siècle. In S. Back & B. Reynolds (Eds.), Literary journalism across the globe: Journalistic traditions and transitional influences (pp. 118–133). University of Massachusetts Press.

Soares, I. (2021). A reportagem e o jornalismo literário ou a reportagem como jornalismo literário. In P. Coelho, A. I. Reis, & L. Bonixe (Eds.), Manual de reportagem (pp. 57–75). LabCom.

Stake, R. E. (2007). A arte de investigação com estudos de caso. Fundação Calouste Gulbenkian.

Tavares, M. (2011). Feminismos: Percursos e desafios (1947-2007). Texto Editores.

Tengarrinha, J. (2016). Entrevista: O Estado Novo em Portugal, o controle da imprensa e a Guerra Colonial. Revista Brasileira de História da Mídia, 5(1), 185–194.

Trindade, A. (2021). Os lugares na obra jornalística e literária de Luís Fernando: Crónica e silêncio na aldeia. Cadernos de Literatura Comparada, (44), 91–109. https://doi.org/10.21747/2183-2242/cad44a5

Trindade, A., & Soares, I. (2018). Escrita lusófona e cidadania: Normas de estilo, de conteúdo e de significado. In S. Sebastião (Ed.), Comunidade dos países de língua portuguesa: A afirmação global das culturas portuguesas (pp. 201–121). ISCSP - Universidade de Lisboa.

van Dijk, T. A. (2014). Discourse and knowledge: A sociocognitive approach. Cambridge University Press.

van Dijk, T. A. (2017). Discurso, notícia e ideologia: Estudos na análise crítica do discurso (Z. Pinto-Coelho, Trad.). Edições Húmus.

Wodak, R. (2001). What CDA is about: A summary of its history, important concepts, and its developments. In R. Wodak & M. Meyer (Eds.), Methods of critical discourse analysis (pp. 1–13). SAGE.

Publicado

25-07-2024

Como Citar

Cunha, J. da. (2024). Irene Lisboa e o Jornalismo Literário na Violência Contra a Mulher. Representação Sociopolítica nas Revistas Portuguesas Seara Nova e presença (1929–1955). Comunicação E Sociedade, 46, e024016. https://doi.org/10.17231/comsoc.46(2024).5270