Covid-19: Uma Pandemia Gerida Pelas Fontes Oficiais Através de uma Comunicação Política

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/comsoc.40(2021).3520

Palavras-chave:

covid-19, jornalismo, fontes oficiais de informação, comunicação de saúde

Resumo

A pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 trouxe para o campo jornalístico um conjunto alargado de especialistas, principalmente da área da saúde. No entanto, as fontes oficiais, sobretudo políticas, não perderam espaço. A elas ficou reservado o papel de decisores, mas isso nem sempre foi comunicado da melhor forma, criando-se com regularidade entropias de vária ordem. Por exemplo, por vezes não se tornou claro por que é que alguns países adotaram confinamentos severos enquanto outros rejeitaram medidas restritivas. A resposta a esta pandemia foi sempre difícil. Acima de tudo, porque o conhecimento era escasso, mas muitas vezes porque não havia cooperação e coordenação entre vários agentes, entre eles os governos, autoridades de saúde ou especialistas. Neste trabalho, procuramos saber qual o lugar das fontes oficiais na imprensa portuguesa durante os estados de emergência. Para isso, analisámos dois jornais, um de referência (Público), outro de linha popular (Jornal de Notícias), de 18 de março a 2 de maio de 2020 e de 9 de novembro a 23 de dezembro de 2020. O nosso corpus de análise é composto por 2.307 textos noticiosos: 1.850 textos foram publicados durante a primeira fase de emergência nacional, citando 4.048 fontes; e 457 foram publicados na segunda fase, apresentando a citação de 857 fontes. Como conclusões, constatamos uma grande visibilidade das fontes oficiais, particularmente do governo, sobressaindo aí o primeiro-ministro e um conjunto restrito de outros ministros. Não há propriamente ninguém que assuma o papel de porta-voz oficial daquilo que vai acontecendo, ao contrário do que é recomendado na literatura, e isso foi provocando alguns deslizes na comunicação ao longo de 2020, verificando-se no final desse ano uma subida de casos, resultante também de algumas hesitações ao nível das decisões.

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Biografias Autor

Felisbela Lopes, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Braga, Portugal

Felisbela Lopes é professora associada com agregação da Universidade do Minho, onde trabalha desde 1994. Entre 2009 e 2014, foi aí pró-reitora para a área da comunicação. Tem centrado a sua investigação académica nas áreas da informação televisiva, do jornalismo da saúde e das fontes de informação e tem desenvolvido o ensino no campo do jornalismo. Fez agregação e doutoramento com trabalho académico sobre a informação televisiva. É autora de vários artigos em revistas científicas e de livros, entre os quais se destacam Marcelo, Presidente Todos os Dias (Porto Editora, 2019), Jornalista: Uma Profissão Ameaçada (Alêtheia, 2015); Vinte Anos de TV Privada em Portugal (Editora Guerra e Paz, 2012); A TV do Real (Minerva, 2008); A TV das Elites (Campo das Letras, 2007) e o Telejornal e o Serviço Público (Minerva, 1999).

Rita Araújo, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Braga, Portugal

Rita Araújo, doutora em Ciências da Comunicação, é investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho. Os seus interesses de investigação são a comunicação e o jornalismo em saúde, as fontes de informação, e a literacia em saúde. Foi investigadora visitante no Hunter College, City University School of Public Health, Nova Iorque, e integrou a equipa portuguesa do projeto Health Reporting Training Project (2010-3675 HeaRT), financiado pelo Lifelong Learning Program da Comissão Europeia. Foi investigadora, com uma bolsa financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no projeto nacional A Doença em Notícia (PTDC/CCI-COM/103886/2008). É autora e coautora de vários artigos científicos e capítulos de livros e apresentou já a sua investigação em diversas conferências nacionais e internacionais.

Olga Magalhães, Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, Universidade do Porto, Porto, Portugal

Olga Estrela Magalhães é doutorada em ciências da comunicação pela Universidade do Minho, especializada em assessoria mediática na área da investigação em saúde. É investigadora do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e coordenadora do Gabinete de Comunicação e Imagem da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Os seus interesses de investigação incluem as áreas de comunicação de saúde, comunicação de ciência, jornalismo e assessoria mediática.

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Publicado

20-12-2021

Como Citar

Lopes, F., Araújo, R., & Magalhães, O. (2021). Covid-19: Uma Pandemia Gerida Pelas Fontes Oficiais Através de uma Comunicação Política. Comunicação E Sociedade, 40, 17–32. https://doi.org/10.17231/comsoc.40(2021).3520

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