Checagem de Fatos e Autoridade Jornalística no Brasil: Uma Análise do Fato ou Fake e do Estadão Verifica
DOI:
https://doi.org/10.17231/comsoc.46(2024).5665Palavras-chave:
jornalismo político, objetividade, checagem de fatos, Bolsonaro, LulaResumo
Com o objetivo de compreender de que modo empresas de comunicação mainstream mobilizam o serviço de verificação de fatos, este trabalho investiga a seguinte questão de pesquisa: em que medida as agências brasileiras Estadão Verifica e Fato ou Fake buscam reforçar sua autoridade epistêmica por meio da checagem de fatos ao longo dos Governos de Jair Bolsonaro (2019–2022) e Luiz Inácio Lula da Silva (2023–presente)? Para isso, foram coletados todos os textos publicados pelas duas agências que, em seus títulos, mencionaram Jair Bolsonaro, entre janeiro e maio de 2022, e Lula, entre janeiro e maio de 2023. O corpus compreende 119 checagens (95 do Estadão Verifica e 24 do Fato ou Fake) e foi submetido à análise de conteúdo. Os dados indicam que as coberturas das agências se concentraram em assuntos semelhantes durante os dois Governos — sendo que mais de metade das publicações desmentiu boatos prejudiciais a Lula. Os resultados revelam, ainda, que o processo de verificação de fatos dá ênfase a fontes do próprio jornalismo. Isto é, o Estadão Verifica e o Fato ou Fake mobilizaram materiais próprios ou de outras empresas de comunicação mainstream a fim de checar as histórias selecionadas — o que sugere limites à transparência da apuração, uma vez que muitas das informações utilizadas já passaram, anteriormente, por filtros editoriais, nem sempre claros ao público.
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