Desconexão Digital e Jovens Portugueses: Motivações, Estratégias e Reflexos no Bem-Estar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/comsoc.44(2023).4466

Palavras-chave:

digital, desconexão, jovens, bem-estar, média sociais

Resumo

À medida que a maioria dos indivíduos se torna utilizador dos média digitais, muitos lutam para encontrar um equilíbrio nesse uso. Este estudo contribui para a pesquisa emergente sobre como as experiências de desconexão digital se refletem no bem-estar (Nguyen et al., 2021; Radtke et al., 2022; Vanden Abeele, 2021), concentrando-se nas motivações e estratégias para se desconectar dos média digitais, bem como nos resultados para o bem-estar. Propusemo-nos compreender os adolescentes que optaram voluntariamente por desligar no período pós-confinamentos, em 2021. O nosso estudo qualitativo incluiu 20 participantes entre os 15 e os 18 anos em Portugal. Entre aqueles que optaram conscientemente por se desconectar dos média digitais, as motivações surgiram da perceção de que esses meios não traziam benefícios suficientes para a quantidade de tempo que lhes tomavam. Algumas formas específicas de média digitais destacaram-se como particularmente problemáticas para os jovens, especialmente os média sociais, mas também os videojogos e a pornografia. Essa perceção parece ser fortemente influenciada pelos média, o que se evidencia no vocabulário e nas associações usadas pelos entrevistados. A pressão social é sentida como causadora de ansiedade quando estão conectados e quando estão desconectados por meio do fear of missing out (medo de perder o que se está a passar). No entanto, o grupo é fonte de apoio quando eles se envolvem numa desconexão progressiva em conjunto.
A desconexão radical é rara, principalmente em tempos de pandemia, e pode aparecer como solução para um problema dramático na vida dos jovens, mas também pode ser revertida. Mais frequentemente, os participantes tentaram autorregular o seu uso do digital, quando reconheceram as vantagens desses serviços, bem como as suas desvantagens. Este não é um processo linear, mas sim marcado por tentativas e reversões, à medida que surgem sentimentos inesperados, como o tédio. Quando os jovens desenvolvem diferentes hábitos sociais e de lazer, experimentam resultados positivos de desconexão do digital.

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Biografias Autor

Patrícia Dias, Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal

Patrícia Dias é doutorada em ciências da comunicação, é professora auxiliar da Universidade Católica Portuguesa e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura. Os seus principais interesses de pesquisa são o uso de média digital por crianças e também dentro da comunicação organizacional, marketing e branding. É autora de diversas publicações sobre o impacto social dos média digitais e o uso de smartphones.

Leonor Martinho, Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal

Leonor Martinho é mestre em ciências da comunicação pela Universidade Católica Portuguesa. Interessa-se pela desconexão digital e bem-estar. Colaborou com o projeto Dis/Connect.

Ana Jorge, Centro de Investigação em Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias, Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação, Universidade Lusófona, Lisboa, Portugal

Ana Jorge é investigadora coordenadora do Centro de Investigação em Comunicações Aplicadas, Cultura e Novas Tecnologias e professora associada da Universidade Lusófona. É doutorada em ciências da comunicação pela Universidade NOVA de Lisboa. Publicou extensivamente sobre crianças, jovens e média, cultura de celebridades e influenciadores, cultura digital e comunicação. É co-editora de Digital Parenting (Parentalidade Digital; Nordicom, 2018) e Reckoning With Social Media (O Acerto de Contas com as Redes Sociais; Rowman & Littlefield, 2021).

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Publicado

20-07-2023

Como Citar

Dias, P., Martinho, L., & Jorge, A. (2023). Desconexão Digital e Jovens Portugueses: Motivações, Estratégias e Reflexos no Bem-Estar. Comunicação E Sociedade, 44, e023014. https://doi.org/10.17231/comsoc.44(2023).4466