O Ciberespaço Como Denúncia: Assédio e Discriminação Vinculados à Colonialidade no Projeto Brasileiras Não Se Calam

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/comsoc.41(2022).3697

Palavras-chave:

ciberativismo, imigração, xenofobia, Brasileiras Não Se Calam, ciberfeminismo

Resumo

O estereótipo da mulher latina é comummente associado à sexualidade. Dentre elas, as mulheres brasileiras parecem carregar ainda mais este estigma mundo fora. Enquanto imigrantes, interseccionadas por outras matrizes de opressão além de género e raça, por exemplo, estas mulheres veem-se sujeitas a diversas marcas ainda remanescentes da colonialidade eurocêntrica que as inferioriza e silencia (Mignolo, 2000/2003), o que é agravado quando o país de emigração é o seu colonizador. Este artigo explora a utilização do ciberespaço como campo de denúncia e ativismo feminista através do estudo de caso do perfil @brasileirasnaosecalam, a partir da análise de conteúdo. O projeto surge na rede social digital Instagram com o intuito de denunciar, de maneira anónima, assédios, discriminações e preconceitos que mulheres imigrantes brasileiras sofrem em Portugal, especificamente por carregarem consigo a sua própria nacionalidade. Assim, através do ciberativismo, também feminista, as mulheres dispõem de um novo ciclo político de oportunidades impulsionadas pela construção e consolidação de laços entre elas ao redor do globo, rompendo binarismos, também entre primeiro e terceiro mundo, num apelo à articulação entre fronteiras (Timeto, 2019). Constata-se a relevância de empreender uma visão ontológica que se apoie numa perspetiva feminista decolonial e interseccional que utiliza o ciberfeminismo como aliado de interconexão entre o espaço digital e o real.

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Biografias Autor

Camila Lamartine, Instituto de Comunicação da NOVA, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal

Camila Lamartine é doutoranda na Universidade Nova de Lisboa. Investiga sobre estudos feministas e de género, ciberativismo e culturas digitais. Trabalha como jornalista, é integrante do Instituto de Comunicação da Nova e diretora de comunicação do grupo de pesquisa Gênero e Justiça – Perspectivas Interdisciplinares (Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa). É membro da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação.

Marisa Torres da Silva, Instituto de Comunicação da NOVA, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal

Marisa Torres da Silva é professora auxiliar do Departamento de Ciências da Comunicação da Nova (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas). É investigadora do Instituto de Comunicação da Nova, diretora da revista Media & Jornalismo e coordenadora adjunta do grupo de trabalho Públicos e Audiências da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação. Para mais informações, consultar o ciência ID E811-91FA-DC5E.

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Publicado

22-06-2022

Como Citar

Lamartine, C., & Silva, M. T. da. (2022). O Ciberespaço Como Denúncia: Assédio e Discriminação Vinculados à Colonialidade no Projeto Brasileiras Não Se Calam. Comunicação E Sociedade, 41, 209–229. https://doi.org/10.17231/comsoc.41(2022).3697