A Guerra Colonial nas Narrativas Mediáticas: Como os Jornais de Portugal e Angola Recontaram uma Efeméride 60 Anos Depois

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/comsoc.41(2022).3666

Palavras-chave:

estratégias de representação, narratologia pós-colonial, abordagem histórico-discursiva, narrativas mediáticas, Guerra Colonial

Resumo

A 15 de março de 2021 completaram-se 60 anos da insurgência angolana que deu início à Guerra Colonial. A data reavivou a memória de um marco interseccional entre as histórias de Portugal e Angola e, por ter ganhado espaço nos média informativos mainstream, fez-se oportuna para que se analisassem as narrativas mediáticas que recontaram o conflito. O episódio, que se deu em 1961, foi motivado por uma série de fatores, dos quais se destaca a insatisfação dos povos nativos com o regime de exploração. Nesta investigação, inscrita no campo da narratologia pós-colonial, pretendeu-se compreender de que forma os jornais portugueses e angolanos reportaram esta efeméride. Para tal, recorreu-se a uma metodologia de natureza qualitativa — a análise crítica do discurso — e analisaram-se, de modo exploratório, textos jornalísticos sobre a efeméride em questão publicados nos diários Público e Jornal de Angola. O objetivo era compreender as diferenças ideológicas entre a abordagem de cada uma das produções mediáticas, assinalando encontros e desencontros, e identificar as estratégias discursivas que moldaram tais narrativas mediáticas contemporâneas acerca de conflitos coloniais. Entre as conclusões está a perceção de que o jornal angolano costurou a sua narrativa a partir de uma perspetiva interna do colonialismo, com uma abordagem dos acontecimentos a partir dos relatos de quem os viveu. Por seu turno, o órgão português pautou-se pelas relações já pós-coloniais que se desenhavam à medida em que avançava a globalização.

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Biografias Autor

Gustavo Freitas, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal

Gustavo Freitas (nascido em 1993 em Fortaleza, Brasil) é mestre em jornalismo e comunicação e doutorando em ciências da comunicação, ambos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Desenvolve investigação no domínio dos estudos pós-coloniais, com ênfase nas relações lusófonas, e das representações mediáticas, com ênfase no papel do discurso na construção destas.

Ana Teresa Peixinho, Centro de Estudos Interdisciplinares, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal

Ana Teresa Peixinho (nascida em 1971 em Coimbra, Portugal) é professora associada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Doutorada em ciências da comunicação, é professora dos três ciclos de estudos de jornalismo e comunicação. É investigadora integrada do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, onde coordena com Clara Almeida Santos o grupo de investigação Comunicação, Jornalismo e Espaço Público. Desenvolve investigação no domínio dos estudos narrativos mediáticos e da análise dos média.

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Publicado

22-06-2022

Como Citar

Freitas, G., & Peixinho, A. T. (2022). A Guerra Colonial nas Narrativas Mediáticas: Como os Jornais de Portugal e Angola Recontaram uma Efeméride 60 Anos Depois. Comunicação E Sociedade, 41, 75–89. https://doi.org/10.17231/comsoc.41(2022).3666

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