Análise de Sentimentos: Da Psicométrica à Psicopolítica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/comsoc.39(2021).2797

Palavras-chave:

emoções, análise de sentimentos, psicopolítica, big data, vigilância

Resumo

Os dados sobre nossas emoções, os chamados emotional data, constituem hoje uma valiosa commodity coletada e comercializada por plataformas de comunicação digital. Entre os maiores interessados em obtê-la estão corporações financeiras e políticas que, entre outros usos, baseiam suas decisões em informações sobre os afetos dos usuários das redes. Existem diferentes formas de se gerar emotional data, e uma delas é a análise de sentimentos. Este artigo aborda algumas características dessa ferramenta, investigando o seu funcionamento e os saberes psicométricos que a constituem. A análise de sentimentos é entendida não apenas como uma ferramenta de detecção de afetos, mas também de produção emocional, uma técnica que opera instrumentalizando as emoções para uma capitalização alheia ao indivíduo. É dessa maneira que é possível delineá-la — para além de um instrumento psicométrico — como um aparato psicopolítico. Neste sentido, conceitos como “sociedade de controle” (Deleuze, 1992), “sociedade confessional” (Bauman, 2012/2014), além da própria noção de “psicopolítica” (Han, 2014/2014b), são úteis para compreendermos aspectos da produção emocional assentes nas novas tecnologias da comunicação. Este artigo, portanto, pretende contribuir para o entendimento de um fator importante, mas ainda algo negligenciado nos estudos sobre big data e vigilância: o monitoramento e a produção de afetos como forma de controle subjetivo.

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Publicado

30-06-2021

Como Citar

Melhado, F., & Rabot, J.-M. (2021). Análise de Sentimentos: Da Psicométrica à Psicopolítica. Comunicação E Sociedade, 39, 101–118. https://doi.org/10.17231/comsoc.39(2021).2797