“O Mesmo Rigor, o Mesmo Pluralismo”: Análise da “Parceria Transatlântica” Entre os Jornais Público e Folha de S. Paulo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/volesp(2025).5431

Palavras-chave:

análise crítica do discurso, Brasil, democracia, metajornalismo, Portugal

Resumo

Com base na premissa de que, por meio do discurso jornalístico, é possível reconhecer os sentidos socialmente partilhados, bem como as disputas simbólicas de poder, este artigo objetiva identificar e compreender de que maneira o compromisso normativo se manifesta no discurso jornalístico luso-brasileiro. A perspectiva normativa é aqui revista, pois sua tradicional associação à democracia dos Estados Unidos da América não se aplica a todas as sociedades. A partir de um estudo de caso mais amplo, selecionou-se o editorial publicado conjuntamente pelos jornais Público (Portugal) e Folha de S. Paulo (Brasil), em 9 julho de 2020, para a análise do fenômeno. Sob o guarda-chuva teórico-metodológico dos estudos do discurso, aplicou-se a técnica da análise crítica do discurso. Os resultados mostram que o discurso jornalístico luso-brasileiro atravessa cinco eixos: a informação digital; certa idealização do jornalismo como defensor da democracia; as questões migratórias; a língua portuguesa; e os objetivos europeus. De maneira alargada, Público e Folha de S. Paulo unem-se para ampliar a sua força no campo jornalístico. Entretanto, por mais que se almeje uma irmandade entre Portugal e Brasil, as particularidades político-institucionais de cada país abalam a fantasia criada. O caso também aponta para estratégias que os jornais tradicionalmente impressos têm adotado para reafirmar sua qualidade noticiosa, sobretudo diante dos mídia digitais e da desinformação.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia Autor

Thaís Braga, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Braga, Portugal

Thaís Braga é doutorada em Ciências da Comunicação. É jornalista na Universidade Federal do Pará e investigadora colaboradora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. Integra os grupos de pesquisa Hermenêutica e Comunicação — HERMENECOM, Narrativas Contemporâneas na Amazônia Paraense — NARRAMAZÔNIA e Mídia e Violência: Percepções e representações na Amazônia (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Referências

Aguiar, S. (2016). Territórios do jornalismo: Geografias de mídia local e regional no Brasil. Editora PUC-Rio; Vozes.

Albuquerque, A. de. (2005). Another “Fourth Branch”: Press and political culture in Brazil. Journalism, 6(4), 486–504. https://doi.org/10.1177/1464884905056817

Albuquerque, A. de. (2019a). Journalism and multiple modernities: The Folha de S. Paulo reform in Brazil. Journalism Studies, 20(11), 1546–1562. https://doi.org/10.1080/1461670X.2018.1528881

Albuquerque, A. de. (2019b). Protecting democracy or conspiring against it? Media and politics in Latin America: A glimpse from Brazil. Journalism, 20(7), 906–923. https://doi.org/10.1177/1464884917738376

Assis, G. D. O. (2021). “Estar aqui, estar lá”: Novas configurações familiares e afetivas na migração de brasileiros para Europa. Simpósio Gênero e Políticas Públicas, 6, 1212–1229. https://doi.org/10.5433/SGPP.2020v6.p1212

Avritzer, L. (2020). A crise da democracia e a ascensão do populismo de direita no Brasil. In A. C. Pinto & F. Gentile (Eds.), Populismo - Teorias e casos (1.a ed., pp. 145–156). Edmeta.

Azevedo, F. A. (2006). Mídia e democracia no Brasil: Relações entre o sistema de mídia e o sistema político. Opinião Pública, 12(1), 88–113. https://doi.org/10.1590/S0104-62762006000100004

Barretto Filho, H. T. (2020). Bolsonaro, meio ambiente, povos e terras indígenas e de comunidades tradicionais. Cadernos de Campo (São Paulo - 1991), 29(2), 1–9. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29i2pe178663

Belair-Gagnon, V. (2019). Sociology of news work. In T. P. Vos & F. Hanusch (Eds.), The international encyclopedia of journalism studies (pp. 1–8). John Wiley & Sons. https://doi.org/10.1002/9781118841570.iejs0031

Borges, R., & Afonso, A. (2018). Why subaltern language? Yes, we speak Portuguese! Para uma crítica da colonialidade da língua na mobilidade estudantil internacional. Comunicação e Sociedade, 34, 59–72. https://doi.org/10.17231/comsoc.34(2018).2935

Bourdieu, P. (2005). The political field, the social science field, and the journalistic field. In R. Benson & E. Neveu (Eds.), Bourdieu and the journalistic field (pp. 29–47). Polity Press.

Brüggemann, M., Engesser, S., Büchel, F., Humprecht, E., & Castro, L. (2014). Hallin and Mancini revisited: Four empirical types of Western media systems. Journal of Communication, 64(6), 1037–1065. https://doi.org/10.1111/jcom.12127

Carey, J. W. (2007). A short history of journalism for journalists: A proposal and essay. Harvard International Journal of Press/Politics, 12(1), 3–16. https://doi.org/10.1177/1081180X06297603

Carlson, M. (2016). Metajournalistic discourse and the meanings of journalism: Definitional control, boundary work, and legitimation. Communication Theory, 26(4), 349–368. https://doi.org/10.1111/comt.12088

Carlson, M., Robinson, S., Lewis, S. C., & Berkowitz, D. A. (2018). Journalism studies and its core commitments: The making of a communication field. Journal of Communication, 68(1), 6–25. https://doi.org/10.1093/joc/jqx006

Carvalho, C. A. (2019). Moisés de Lemos Martins: “O português é uma língua não só de comunicação, mas também de culturas, pensamento e conhecimento”. MATRIZes, 13(1), 93–106. https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v13i1p93-106

Christians, C. G., Glasser, T. L., McQuail, D., Nordenstreng, K., & White, R. A. (2009). Normative theories of the media: Journalism in democratic societies. University of Illinois Press.

Couldry, N., & Andreas, H. (2017). The mediated construction of reality. Polity Press.

Deuze, M. (2001). Understanding the impact of the internet: On new media professionalism, mindsets and buzzwords. EJournalist, 1(1).

Deuze, M. (2003). The web and its journalisms: Considering the consequences of different types of newsmedia online. New Media & Society, 5(2), 203–230. https://doi.org/10.1177/1461444803005002004

Deuze, M., & Witschge, T. (2018). Beyond journalism: Theorizing the transformation of journalism. Journalism, 19(2), 165–181. https://doi.org/10.1177/1464884916688550

Dias, A. B. (2012). O presente da memória: Uso do passado e as (re)construções de identidade da Folha de São Paulo, entre o “golpe de 1964” e a “ditabranda” [Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Paraná]. DSpace. http://hdl.handle.net/1884/27381

Eldridge, S., II. (2017). Hero or anti-hero? Digital Journalism, 5(2), 141–158. https://doi.org/10.1080/21670811.2016.1162105

França, T., & Padilla, B. (2019). Imigração brasileira para Portugal: Entre o surgimento e a construção midiática de uma nova vaga. Cadernos de Estudos Sociais, 33(2), 207–237. https://doi.org/10.33148/CES2595-4091v.33n.220181773

França, V. R. V. (1998). Jornalismo e a vida social: A história amena de um jornal mineiro. Editora UFMG.

Franklin, B. (2012). The future of journalism: Developments and debates. Journalism Studies, 13(5–6), 663–681. https://doi.org/10.1080/1461670X.2012.712301

Freedman, E. (2020). In the crosshairs: The perils of environmental journalism. Journal of Human Rights, 19(3), 275–290. https://doi.org/10.1080/14754835.2020.1746180

Gerring, J. (2004). What is a case study and what is it good for? American Political Science Review, 98(2), 341–354. https://doi.org/10.1017/S0003055404001182

Guimarães, G. T. D., Paula, M. C., & Hirai, W. G. (2020). Discourse analysis applied to qualitative research: Methodological perspective in debate. New Trends in Qualitative Research, 4, 40–54. https://doi.org/10.36367/ntqr.4.2020.40-54

Guion, L. A., Diehl, D. C., & McDonald, D. (2011). Conducting an in-depth interview. University of Florida.

Hallin, D. C., & Giles, R. (2005). Presses and democracies. In G. Overholser & K. H. Jamieson (Eds.), Institutions of American democracy: The press (pp. 4–16). Oxford University Press.

Hanitzsch, T. (2019). Journalistic roles. In T. P. Vos & F. Hanusch (Eds.), The international encyclopedia of journalism studies (pp. 1–9). John Wiley & Sons. https://doi.org/10.1002/9781118841570.iejs0029

Josephi, B. (2013). De-coupling journalism and democracy: Or how much democracy does journalism need? Journalism, 14(4), 441–445. https://doi.org/10.1177/1464884913489000

Martins, M. de L. (2010). Jornalismo e sonho de comunidade. In M. Oliveira (Ed.), Metajornalismo - Quando o jornalismo é sujeito do próprio discurso (pp. 9–13). Grácio Editor. http://hdl.handle.net/1822/30049

Martins, M. de L. (2017). A linguagem, a verdade e o poder: Ensaio de semiótica social. Edições Húmus.

McNair, B. (1998). The sociology of journalism. Arnold.

McNair, B. (2017). After objectivity? Schudson’s sociology of journalism in the era of post-factuality. Journalism Studies, 18(10), 1318–1333. https://doi.org/10.1080/1461670X.2017.1347893

McQuail, D. (2010). McQuail’s mass communication theory. SAGE.

Mesquita, L. (2023). Collaborative journalism and normative journalism: Lessons from Latin American journalism. Anàlisi, 68, 27–44. https://doi.org/10.5565/rev/analisi.3541

Miranda, J., Fidalgo, J., & Martins, P. (2021). Jornalistas em tempo de pandemia: Novas rotinas profissionais, novos desafios éticos. Comunicação e Sociedade, 39, 287–307. https://doi.org/10.17231/comsoc.39(2021).3176

Moon, R. (2021). When journalists see themselves as villains: The power of negative discourse. Journalism & Mass Communication Quarterly, 98(3), 790–807. https://doi.org/10.1177/1077699020985465

Nerone, J. (2013). The historical roots of the normative model of journalism. Journalism, 14(4), 446–458. https://doi.org/10.1177/1464884912464177

Nicoletti, J., & Flores, A. M. M. (2022). Violência contra jornalistas no canal de Jair Bolsonaro no Youtube. Brazilian Journalism Research, 18(1), 4–35. https://doi.org/10.25200/BJR.v18n1.2022.1438

Ninitas, M. S. (2020). “Troca de galhardetes”. Para o estudo da violência verbal na polémica sobre o acordo ortográfico em Portugal. Revista de Estudos da Linguagem, 28(4), 1873–1912 . https://doi.org/10.17851/2237-2083.28.4.1873-1912

Novais, R. A., Moreira, S. V., & Silva, L. (2013). Brothers in arms? Portuguese and Brazilian journalistic worlds compared. Brazilian Journalism Research, 9(1), 76–95. https://doi.org/10.25200/BJR.v9n1.2013.486

Oliveira, M., & Paulino, F. O. (2017). Serviço público de média em Portugal e no Brasil: Problemas e desafios da pesquisa comparada. Sur le Journalisme, About Journalism, Sobre Jornalismo, 6(2), 56–67. https://doi.org/10.25200/SLJ.v6.n2.2017.317

O’Sullivan, J., Fortunati, L., Taipale, S., & Barnhurst, K. (2017). Innovators and innovated: Newspapers and the postdigital future beyond the “death of print”. Information Society, 33(2), 86–95. https://doi.org/10.1080/01972243.2017.1289488

Paixão Marcos, P. S. M. (2018). Linha editorial no jornalismo brasileiro: Conceito, gênese e contradições entre a teoria e a prática. Revista Alterjor, 17(1), 90–108.

Perdomo, G., & Rodrigues-Rouleau, P. (2022). Transparency as metajournalistic performance: The New York Times’ Caliphate podcast and new ways to claim journalistic authority. Journalism, 23(11), 2311–2327. https://doi.org/10.1177/1464884921997312

Perreault, G., Perreault, M. F., & Maares, P. (2022). Metajournalistic discourse as a stabilizer within the journalistic field: Journalistic practice in the Covid-19 pandemic. Journalism Practice, 16(2–3), 365–383. https://doi.org/10.1080/17512786.2021.1949630

Perreault, G., Tandoc, E., & Caberlon, L. (2023). Journalism after life: Obituaries as metajournalistic discourse. Journalism Practice, 1–18. https://doi.org/10.1080/17512786.2023.2202642

Quandt, T., Frischlich, L., Boberg, S., & Schatto-Eckrodt, T. (2019). Fake news. In The international encyclopedia of journalism studies (pp. 1–6). John Wiley & Sons. https://doi.org/10.1002/9781118841570.iejs0128

Rezola, M. I. (2008). The military, 25 April and the Portuguese transition to democracy. Portuguese Journal of Social Science, 7(1), 3–16. https://doi.org/10.1386/pjss.7.1.3_1

Sakurai, T. (2017). Cultural factors in the flow of international news: A review of the literature. SHS Web of Conferences, 33, Artigo 00008. https://doi.org/10.1051/shsconf/20173300008

Scalabrin Müller, M., Cabecinhas, R., & Santos Silva, D. (2023). Cultural journalism in Brazil and Portugal. Brazilian Journalism Research, 19(1), e1546. https://doi.org/10.25200/BJR.v19n1.2023.1546

Schudson, M. (2011). The sociology of the news. W. W. Norton and Company.

Serrano, E. (2020). Populismo em Portugal. Media & Jornalismo, 20(37), 221–239. https://doi.org/10.14195/2183-5462_37_12

Souza, S. M. B. de. (2019). Jornalismo e mobilidade: Características do app do jornal Folha de S. Paulo [Monografia de graduação, Universidade Federal do Tocantins]. Repositório UFT. http://hdl.handle.net/11612/1905

Thomas, R. J. (2019). Helpfulness as journalism’s normative anchor: Addressing blind spots and going back to basics. Journalism Studies, 20(3), 364–380. https://doi.org/10.1080/1461670X.2017.1377103

Traquina, N. (2005). Teorias do jornalismo: Porque as notícias são como são. Insular.

van Dijk, T. A. (1998). Ideology: A multidisciplinary approach. SAGE.

van Dijk, T. A. (2015). Critical discourse analysis. In D. Tannen, H. E. Hamilton, & D. Schiffrin (Eds.), The handbook of discourse analysis (2.a ed., pp. 466–485). Wiley Blackwell.

van Dijk, T. A. (2017). Discurso, notícia e ideologia: Estudos na análise crítica do discurso. Edições Húmus.

Vargas, C., Sarmento, C., & Oliveira, P. (2017). Cultural networks between Portugal and Brazil: A postcolonial review. International Journal of Cultural Policy, 23(3), 300–311. https://doi.org/10.1080/10286632.2015.1056175

Wu, H. (2000). Systemic determinants of international news coverage: A comparison of 38 countries. Journal of Communication, 50(2), 110–130. https://doi.org/10.1111/j.1460-2466.2000.tb02844.x

Wu, L., Morstatter, F., Carley, K. M., & Liu, H. (2019). Misinformation in social media. ACM SIGKDD Explorations Newsletter, 21(2), 80–90. https://doi.org/10.1145/3373464.3373475

Zelizer, B. (2017). What journalism could be. Polity Press.

Publicado

24-04-2025

Como Citar

Braga, T. (2025). “O Mesmo Rigor, o Mesmo Pluralismo”: Análise da “Parceria Transatlântica” Entre os Jornais Público e Folha de S. Paulo. Comunicação E Sociedade, 243–260. https://doi.org/10.17231/volesp(2025).5431

Edição

Secção

Varia