A Iconoclastia Contemporânea: O Antirracismo Entre a Descolonização da Arte e a (Re)Sacralização do Espaço Público
DOI:
https://doi.org/10.17231/comsoc.41(2022).3691Palavras-chave:
iconoclasmo, colonialidade, antirracismo, multiculturalismo, artivismoResumo
Este artigo tem por objetivo contribuir para a reflexão sobre as fenomenologias da não identificação com o património cultural e artístico, nomeadamente, o arquitetónico e o escultórico, instalado no espaço público urbano. As práticas iconoclastas contemporâneas trouxeram para o debate político e mediático o questionamento da qualidade e pertinência das transformações estéticas e artísticas que aconteceram nas cidades. Pretende-se estabelecer possíveis relações entre os fenómenos iconoclastas, as mitografias contemporâneas e as práticas discursivas pós-coloniais e neocoloniais, abordando as problemáticas sociais e políticas subjacentes ao racismo, que poderão estar na origem das práticas de iconoclastia contra o património. A partir de uma revisão selecionada à literatura científica, publicada no último vinténio, nomeadamente, da autoria de Araújo e Rodrigues (2018), Kilomba (2019; “‘O Racismo É uma Problemática Branca’ diz Grada Kilomba”, 2016), Maeso (2016), Roldão et al. (2016), Ribeiro (2021), Santos (2003), V. Sousa (2020), Vale de Almeida (2000, 2012), Varela e Pereira (2020), entre outros, procurou-se demonstrar o contributo da arte contemporânea e do artivismo curatorial, no seio das instituições museológicas, para o questionamento das narrativas históricas institucionais e para a progressiva desconstrução das práticas discursivas lusotropicalistas, que instituem o colonialismo e a escravatura como inevitabilidades históricas aceites. Verificou-se que o pensamento hegemónico ocidental está assente numa falsa construção ideológica identitária, suportada numa alegada superioridade moral e racial, tendo em vista justificar a prossecução de um modelo de exploração económica estruturado na dominação cultural. Concluiu-se que o multiculturalismo no seio das instituições culturais, a par da salvaguarda da diversidade cultural e da interpretação patrimonial no espaço público, poderá assegurar a inclusão e coesão social, desenvolvendo sentimentos de pertença, e, por conseguinte, permitindo a mitigação das desigualdades e da violência.
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