Como a Ficção Pós-Colonial Pode Contribuir Para uma Discussão Sobre Reparação Histórica: Leitura de As Telefones (2020) de Djaimilia Pereira de Almeida

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17231/comsoc.41(2022).3681

Palavras-chave:

afrodescendência, Djaimilia Pereira de Almeida, pensamento de fronteira, projeto decolonial, reparação histórica

Resumo

A literatura pós-colonial portuguesa publicada depois de 1974 deixou na obscuridade o trauma do colonizado. Os autores afrodescendentes das narrativas portuguesas publicadas desde o início da segunda década deste milénio são herdeiros da geração que fez as libertações africanas, mas que, devido aos anos subsequentes de instabilidades políticas e económicas, fazem parte da diáspora afrodescendente que cresceu em Portugal, constituindo a face visível do emaranhado cultural pós-colonial que o colonialismo produziu. Djaimilia Pereira de Almeida, autora de As Telefones (2020), que se analisa no presente artigo, é um exemplo de uma autoria e vivência afrodescendente que tanto deve às referências culturais portuguesas como à cultura angolana. Assim, argumenta-se que as narrativas de autoria portuguesa afrodescendente desestabilizam imaginários cartográficos para refletir sobre a complexidade cultural da vivência afrodescendente, contribuindo para uma polifonia ausente sobre a memória coletiva no espaço público e consequente possibilidade de reparação histórica. Sustenta-se, por um lado, que As Telefones descoloniza a experiência da perda que a literatura publicada depois de 1974 associou à memória e experiência do corpo do colonizador, mas também, e muito significativamente, ao sentimento de saudade, central na cultura portuguesa; por outro lado, defende que a centralidade narrativa do telefone como único meio de transmissão de pós-memória introduz um corte na convenção literária portuguesa que privilegia a escrita como testemunho, validando a oralidade, muito tributária para a génese das literaturas africanas.

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Biografia Autor

Margarida Rendeiro, Centro de Humanidades, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1069-061 Lisboa, Portugal

Margarida Rendeiro é investigadora integrada no Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A sua investigação de pós-doutoramento centrou-se na pós-memória do 25 de abril de 1974, intitulando-se Memória e Utopia em Portugal Depois de 1974: Os Herdeiros da Revolução de Abril. É igualmente professora auxiliar na Universidade Lusíada de Lisboa. Os seus interesses de investigação versam os estudos culturais e literários portugueses contemporâneos. É doutorada em estudos portugueses pela Universidade King’s College, em Londres (2008). É coordenadora do Grupo de Cultura e Literatura no Centro de Humanidades. É coorganizadora de Challenging Memories and Rebuilding Identities (Desafiando Memórias e Reconstruindo Identidades; Routledge, 2019) e autora de The Literary Institution in Portugal: An Analysis Under Special Consideration of the Publishing Market (A Instituição Literária em Portugal: Uma Análise Orientada ao Mercado Editorial; Peter Lang, 2010). É investigadora-principal do projeto Literatura de Mulheres: Memórias, Periferias e Resistências no Atlântico Luso-Afro-Brasileiro (PTDC/LLT-LES/0858/2021), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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Publicado

22-06-2022

Como Citar

Rendeiro, M. (2022). Como a Ficção Pós-Colonial Pode Contribuir Para uma Discussão Sobre Reparação Histórica: Leitura de As Telefones (2020) de Djaimilia Pereira de Almeida. Comunicação E Sociedade, 41, 43–59. https://doi.org/10.17231/comsoc.41(2022).3681