Participação e património cultural imaterial: o estudo de caso de “Tava, lugar de referência para o povo Guarani”
DOI:
https://doi.org/10.17231/comsoc.36(2019).2349Palavras-chave:
Brasil, Guarani, participação, património cultural imaterial, património dialógicoResumo
A categoria de património cultural imaterial (PCI), institucionalizada no início deste século por diversos países (no ano 2000, no caso do Brasil) e, a nível internacional, pela Unesco (2003), exige a participação dos grupos e comunidades detentores dos bens culturais na sua identificação, salvaguarda e manutenção. Devido ao carácter recente destas políticas patrimoniais, ainda existe um número reduzido de estudos que reflitam sobre os níveis e estratégias de participação utilizados no PCI. Mais recentemente, Rodney Harrison (2013) defendeu a importância de não só estudar a participação de humanos nos processos patrimoniais, mas também, nomeadamente, em contextos indígenas, de não humanos. Com o intuito de contribuir para estas discussões, o artigo descreve e analisa a patrimonialização das ruínas da Missão Jesuítico-Guarani de São Miguel, localizadas no estado brasileiro de Rio Grande do Sul, enquanto “Tava, Lugar de Referência para o Povo Guarani”. O processo durou uma década e encontrou inicialmente diversas resistências por parte dos Guarani. Contudo, o estabelecimento de relações de reciprocidade e de afinidade entre agentes indígenas e não indígenas, o reconhecimento das potencialidades políticas do PCI e a influência de aspetos de ordem espiritual, incluindo de não humanos, promoveram a participação dos Guarani, que demonstraram ser atores essenciais para a identificação e registo do bem cultural em 2014.
Downloads
Referências
Ashworth, G. J. & Turnbridge, J. (1996). Dissonant heritage: the management of the past as a resource in conflict. Chichester: Wiley.
Ashworth, G. J., Graham, B. & Turnbridge, J. (2007). Pluralising pasts: heritage, identity and place in multicultural societies. Londres: Pluto Press.
Batista, J. (2015). Dossiê Missões: as ruínas. Brasília: IBRAM.
Blake, J. (2009). Unesco’s 2003 Convention on intangible cultural heritage: the implications of community involvement in “safeguarding”. In L. Smith & N. Akagawa (Eds.), Intangible heritage (pp. 45-73). Londres/Nova Iorque: Routledge.
Bortolotto, C. (2014). La problemática del patrimonio cultural inmaterial. Culturas. Revista de Gestión Cultural, 1(1), 1-22. https://doi.org/10.4995/cs.2014.3162
Carvalho, A., Carvalho, E. I. de & Carelli, V. (2011). Vídeo nas aldeias: 25 Anos. Olinda: Vídeo nas Aldeias.
Casanova, P. G. (1965). Internal colonialism and national development. Studies in Comparative International Development, 1(4), 27-37.
Castro, E. V de. (2002a). A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de Antropologia. São Paulo: Cosac Naify.
Castro, E. V. de. (2002b). O nativo relativo. Mana, 8(1), 113-48.
Clastres, P. (1974/2013). A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify.
Cooke, B. & Kothari, U. (2002). Participation: the new tyranny? Londres/Nova Iorque: Zed Books.
Cunha, M. C. da. (2008). “Culture” and culture. Traditional knowledge and intelectual rights. Cambridge: Prickly Paradigm Press.
Ganson, B. (2003). The Guaraní under Spanish rule in the Río de la Plata. Stanford: Stanford University Press.
Handler, R. (1988). Nationalism and the politics of culture in Quebec. Madison: The Wisconsin University Press.
Harrison, R. (2013). Heritage: critical approaches. Oxon/Nova Iorque: Routledge.
Herzfeld, M. (1991). A place in history: social and monumental time in a Cretan town. Princeton: Princeton University Press.
INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais (2006). Relatório da etapa de identificação sítio comunidade Mbyá-Guarani São Miguel Arcanjo. Porto Alegre: IPHAN/RS & NIT/UFRGS.
IPHAN (2014). Ata da 77ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural – Brasília – 03 e 04 de Dezembro de 2014. Retirado de http://portal.iphan.gov.br/uploads/atas/ATA__77_Reuniao_Conselho_Consultivo__03_e_04122014.pdf
Lacerda, R. (2018a). O plano, o contraplano e o “plano sem plano”: imagens ocidentais e os Mbya Guarani das Ruínas de São Miguel. Iluminuras, 19(46), 135-168. https://doi.org/10.22456/1984-1191.85245
Lacerda, R. (2018b). The collaborative indigenous cinema of Vídeo na Aldeias and the intangible cultural heritage. MEMORIAMEDIA, 3, 1-11.
Ladeira, M. I. (1992/2007). O caminhar sob a luz: território Mbya à beira do oceano. São Paulo: Editora UNESP.
Milne, E-J. (2012). Saying “no” to participatory video: unraveling the complexities of (non) participation. In E-J Milne, C. Mitchell & N. de Lange (Eds.), Handbook of participatory video (pp. 257-268). Plymouth: Altamira Press.
Moraes, C. E. N. (2010). A refiguração da Tava Miri São Miguel na memória coletiva dos Mbyá-Guarani nas Missões/RS, Brasil. Tese de doutoramento, Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
Morinico, J. R., Beñites, G., Ortega, A. (Realizadores). (2008). Mokoi Tekoá Petei Jeguatá, Duas aldeias, uma caminhada [Filme]. Brasil: Vídeo nas Aldeias.
Noyes, D. (2006). The judgment of Solomon: global protections for tradition and the problem of community ownership. Cultural Analysis, 5, 27-56.
Ortega, A., Ferreira, P. (Realizadores). (2011). Bicicletas de Nhanderu [Filme]. Brasil: Vídeo nas Aldeias.
Ortega, A., Ferreira, P., Carvalho, E. I., Carelli, V. (Realizadores). (2012). Tava, a casa de pedra [Filme]. Brasil: Vídeo nas Aldeias.
Pierri, D. (2018). O perecível e o imperecível: reflexões Guarani Mbya sobre a existência. São Paulo: Elefante.
Pires, D. de M. (2007). Alegorias etnográficas do Mbya rekó em cenários interétnicos no Rio Grande do Sul (2003-2007): discurso, prática e holismo Mbyá frente às políticas públicas diferenciadas. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
Pissolato, E. (2007). A duração da pessoa: mobilidade, parentesco e xamanismo Mbya (Guarani). São Paulo: Editora da UNESP.
Quijano, A. (2010). Coloniality and modernity/rationality. In W. D. Mignolo & A. Escobar (Eds.), Globalization and the decolonial option (pp. 22-32). Oxon/Nova Iorque: Routledge.
Rose, D. (2011). Wild dog dreaming: love and extinction. Charlottesville/Londres: University of Virginia Press.
Schaden, E. (1974). Aspectos fundamentais da cultura Guarani. São Paulo: Editora da Universidade USP.
Smith, L. (2006). Uses of heritage. Oxon: Routledge.
Souza, J. O. C. (1998). Aos fantasmas das Brenhas: etnografia, invisibilidade e etnicidade de alteridades originárias no sul do Brasil. Tese de doutoramento, Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Os autores são titulares dos direitos de autor, concedendo à revista o direito de primeira publicação. O trabalho é licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.